domingo, 24 de maio de 2020

O "Gaivota" e o "Escritor"...


Só há dias é que li o conto "Gaivota" de Maria Rosa Colaço, que retrata um dos muitos meninos que crescem por aí "ao deus dará". Ofereceu-lhe um novo nome, mais apropriado para quem passa o tempo a vaguear pelo cais e pelas ruas de Cacilhas, de braços abertos, como se quisesse voar abraçar o mundo, mesmo que este não o trate da melhor maneira...

A  paginas tantas a escritora  fala de um escritor que escrevia num café rente ao cais. Embora nunca tivéssemos falado sobre isso com Maria Rosa Colaço (com quem falámos muito menos do que devíamos...), as linhas que se seguem têm mesmo a cara de Romeu Correia, que durante largos anos foi o único escritor de Almada, Cacilhas e arredores...

«Tenho conhecido gente tão gira que, nem que viva mil anos, a hei-de esquecer.
Um dia sentei-me na mesa dum senhor que para aqui vem, todas as manhãs, para este café do cais. Passa o tempo a escrever, nunca bebe bica: pede sempre e só, um garoto escuro.
É um escritor!
Uma vez consegui falar com ele.
Ena pai! O que aquele homem sabe de Cacilhas e de Almada e de quem aqui viveu em tempos antigos, nem os jornais da tarde, todos, chegavam para contar. Tudo o que explica, percebe-se muito bem percebido. As pessoas de quem ele fala parece que estão ali mesmo, sentadas na mesa a nosso lado.
Andei uns dias que nem das gaivotas me lembrava: mal o via entrar, sentava-me muito sossegado. Eram histórias e mais histórias, qual delas a mais bonita. E tudo histórias com gente de verdade, estás a ouvir? Operários, tanoeiros, pescadores, miúdos de gandaia.
Acho que para um homem assim, o seu trabalho devia ser estar sentado numa cadeirinha. Com almofada e tudo.
Sentava-se muito bem sentado, traziam-lhe o garoto escuro e pronto! Bico calado e vamos mas é ouvir histórias para alegrar as horas mais tristes, que hoje já trabalhei muito a descarregar sacos, a carregar peixe e hortaliça.
Eu não sei se há empregos destes para distrair as pessoas tristes e sozinhas e cansadas. Mas se eu mandasse era o que fazia.»

domingo, 17 de maio de 2020

Romeu e o Ginásio Clube do Sul "Centenário"


No dia em que se comemora o centenário do Ginásio Clube do Sul, o clube desportivo mais representativo de Cacilhas, vamos recordar algumas palavras de Romeu Correia, que transcrevemos de uma fotocópia de um jornal (penso que será do "Jornal de Almada"), que não está datada, mas que acabámos por conseguir "datá-la", pela sua temática (realização inédita do Sarau anual do Ginásio no Pavilhão dos Desportos de Lisboa, hoje Pavilhão Carlos Lopes, com cerca de 600 atletas ginasistas, em "protesto" por não existir um único pavilhão polidesportivo no Concelho de Almada, que se realizou a 9 de Junho de 1972...).

Romeu disse:

«Não há dúvida de que são outros tempos! E também o deveriam ser para o Ginásio Clube do Sul, não é verdade? Pois esta benemérita colectividade de Cacilhas é, hoje... um centro desportivo atrofiado, sem horizontes, cuja massa associativa e atlética se move numas instalações anacrónicas (instalações que poderiam servir em 1920, mas nunca em 1972).»

Romeu faz ainda a seguinte pergunta:

A Vila de Almada cresce, cresce todos os dias - e o Ginásio Clube do Sul não pode crescer... Porquê?»

Claro que está aqui implícita uma crítica ao Município, que prometeu durante anos e anos a oferta de um terreno para a construção do tão sonhado pavilhão, que só seria construído e inaugurado nos anos noventa do século passado...

Esta jornada foi histórica, com a comitiva do Ginásio (atletas, treinadores, dirigentes, associados e simpatizantes a viajarem de Cacilheiro para Lisboa e depois a subirem a Avenida da Liberdade, em direcção ao Pavilhão, no Parque Eduardo VII...

Romeu Correia, sócio honorário do Clube, foi o porta-estandarte do Ginásio, como se pode comprovar pela fotografia tirada no interior do Pavilhão, durante o cerimonial de abertura do Sarau.

E parabéns, Ginásio!